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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Datação por carbono-14 e as safadezas de um brasileiro avantajado (ou mentiroso...)


Hoje, no jornal Folha de S. Paulo, saiu uma matéria na página dedicada à ciência, sobre o achado de um antropólogo da USP, o Prof. Walter Alves Neves, que lidera o grupo que encontrou e datou uma gravura de caverna representando um homem animado, no sentido sexual, em Minas Gerais. Dê uma olhada na imagem clicando aqui e abrindo para a matéria da folha. Mais adiante será importante ter visto a imagem!

Onde entra o carbono 14 nessa história? Vamos ao fundamento: todo átomo tem três componentes, o próton e o neutron que ficam no núcleo (exceção é o hidrogênio que só tem um próton e nenhum neutron, os demais tem protons e neutrons) e o elétron que fica na eletrosfera, ao redor do núcleo. O núcleo é o principal responsável pela massa do átomo e a eletrosfera é a principal responsável pelo tamanho do átomo. A quantidade de prótons que tem no núcleo é o que determina a identidade do átomo (próton e protagonista não tem o mesmo radical por acaso...). Se um átomo tem 6 prótons, será um carbono, se tiver 7 prótons será um nitrogênio, e por aí vai a tabela periódica inteira. Porém, a quantidade de neutrons pode variar para o mesmo elemento. Por exemplo, há carbonos que tem 6 prótons e 6 neutrons e são conhecidos como Carbono 12, já os carbonos que tem 6 prótons e 8 neutrons são conhecidos como Carbono 14 (perceberam a lógica do número que acompanha o nome do átomo? É a soma dos prótons e neutrons e esse número se chama número de massa). Estas espécies do mesmo elemento que tem massa diferente a gente chama de isótopos, o Carbono 12, mais comum, é isótopo do Carbono 14, menos comum. Na tabela periódica vai o isótopo mais abundante e mais estável encontrado na natureza, os demais são menos abundantes e, mais importante para o que estamos conversando, menos estáveis. Como na natureza há uma proporção mais ou menos fixa entre os diferentes isótopos de um mesmo elemento, o pessoal que inventou esta técnica de datação teve a seguinte sacada: os seres vivos tem a mesma proporção de Carbono 12 e Carbono 14 porque estão sempre respirando e se alimentando e, portanto sempre renovando as duas espécies de carbono. Porém assim que um ser vivo morre essa troca para e a razão entre os dois tipos de carbonos vai mudar uma vez que um é mais estável que o outro. Como sabemos a velocidade com a qual o carbono 14 se decompõe, calculando a concentração em relação à concentração de carbono 12, conseguimos saber aproximadamente há quanto tempo aquele artefato foi feito. Materiais típicos que podem dar dicas de idade para os cientistas são, por exemplo, flechas que já foram pedaços de galho arrancados de árvores, ou partes internas de urnas com material orgânico, como resíduos de alimentos que foram petrificados, ou ainda pinturas com pigmentos que eram misturados à gordura animal para poder espalhá-los pela parede de pedra. No caso da descoberta do professor Walter Neves, a dica da idade da gravura veio de uma fogueira que estava logo abaixo da gravura, que revelou a idade aproximada de 10.500 anos de idade. Artefatos que não tenham carbono, como panelas, espadas ou pontas metálicas de flechas não podem ser datadas por carbono 14 por não terem carbono...

Agora que aprendemos sobre a datação, é importante aproveitar a saliência do artista (o homem das cavernas que fez a gravura) para fazer algumas especulações. Primeiramente, o pênis representado é praticamente do mesmo tamanho do pé na mesma gravura, um bom parâmetro de tamanho. Questão importantíssima atrelada ao tamanho do pênis na gravura é: o artista era adepto do realismo ou do impressionismo? O primeiro estilo retrata com fidelidade o retratado, já o segundo estilo retrata a impressão que o artista teve do retratado. No caso do artista ser adepto do realismo, significa que o homem não evoluiu, mas aparentemente regrediu, no quesito tamanho. Porém, caso o artista seja adepto do impressionismo, e a obra seja um auto-retrato, significa que o homem não evoluiu nada, nos últimos 10.500 anos, no quesito auto-avaliação...

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