Para cuidar do umbiguinho da minha
filha, logo após chegar do parto, a recomendação foi usar o álcool 70% para
higienizar todo dia, até cair o coto umbilical que ficou pendurado. É uma
dúvida comum o fato de se usar o álcool 70% e não o álcool 90% (na verdade, 92,8%, mas o pessoal acostumou a chamar de álcool 90%) para higienizar
ambientes. Um amigo meu que é dono de uma doceria, me perguntou uma
vez porque a Anvisa exige álcool 70% se ele poderia usar álcool 90%, mais
concentrado e portanto melhor para higienizar. A preocupação é tanta que os
fiscais não aceitam que você faça a diluição e exigem a compra de
álcool 70% para higienização. Esta dúvida surge porque normalmente as pessoas
entendem que quanto maior a concentração de um ativo, no caso o álcool, maior é
o efeito que se espera dele. Esta confusão acontece porque é verdade para
muitas situações, mas para o álcool usado na higienização não é assim e vamos
tentar entender porque.
Primeiramente, vamos falar um
pouquinho do álcool. Ele provavelmente foi percebido primeiramente pelos agricultores
que, ao guardar grãos como a cevada em ambientes com umidade suficiente para iniciar
a germinação destes grãos, acabaram produzindo “grãos malteados”. Grãos malteados
são aqueles que tiveram somente a etapa inicial de seu processo de germinação, em
que se quebram parte dos amidos (que são polissacarídeos) em açúcares mais
simples, que tornam possível a fermentação. Com a presença de
fungos selvagens, como o saccharomyces cerevisiae, pode-se fermentar estes
grãos e produzir álcool. Este processo de fermentação na presença do saccharomyces
cerevisiae também pode ocorrer com suco de frutas. A fermentação de grãos como a cevada, após malteados,
pode originar a cerveja e a fermentação de suco de frutas, como a uva pode originar
o vinho. O vinho, que tem uma concentração de álcool um pouco maior, de 10 a
12%, já era usado como desinfetante em feridas de batalha, que eram cobertas com
um pano embebido, e mantido umedecido, com vinho. Algum tempo depois do advento
da destilação, que é uma técnica usada para separar misturas, eseu uso para separar a água do álcool, mesmo que parcialmente, o álcool (na época
chamado também de espírito do vinho) ganhou em eficácia e
passou a ser mais utilizado como desinfetante (e como bebida recreativa...).
Até aqui vale a premissa de quanto mais concentrado o álcool, mais efeito tem,
seja no efeito antisséptico, seja para engatarmos uma bebedeira.
A situação da concentração muda
quando é para higienizar um ambiente, ou seja, matar microorganismos que não
estejam na forma de esporo. O álcool age nos microorganismos por desnaturar as
proteínas na presença de água e a sua eficácia acontece entre 60 e 90% de
concentração. ATENÇÃO: em concentrações próximas a 100% de álcool, ou seja, com
pouquíssima água, o álcool NÃO atua como desinfetante (Dê uma olhada na Tabela
2, da página 7 deste documento da Anvisa). Se a faixa de 60 a 90% funciona bem, porque se escolheu o
álcool 70% como o padrão para higienização? O meu palpite é que em
concentrações menores ele demora mais para evaporar, atuando por um tempo maior
no lugar que se quer desinfetar, aumentando a eficiência. Portanto, siga as
intruções e use álcool 70% para higienizar o umbiguinho de sua cria, pois o de
90% é pior para essa função.
P.S.: O primeiro post da série sobre aventuras de um pai nerd está aqui, e é sobre mamadeiras.
P.S.: O primeiro post da série sobre aventuras de um pai nerd está aqui, e é sobre mamadeiras.
Parece que você confunde antisséptico e desinfetante. Lendo o que você escreveu, dá pra entender que o álcool 90% (na realidade, 92,8 °INPM) ainda é o mais indicado como antisséptico, enquanto que para desinfetante, sim, seria o álcool 70%.
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